terça-feira, 5 de março de 2013

Eu fui maltratada na maternidade! E você?

 

Fonte: MSN em http://estilo.br.msn.com/demaepramae/blog/mariana-della-barba/post.aspx?post=1062756d-8fd4-43ed-94e2-cd3c29f77f93

Muita gente não sabe, mas impedir o marido de acompanhar o parto e não explicar os procedimentos são apenas alguns dos abusos contra a mulher. Será que você também sofreu com isso?

Por Mariana Della Barba 4/mar 01:11

Minha filha nasceu há um ano em uma maternidade que é considerada uma das melhores de São Paulo. Jamais pensaria que teria um tratamento péssimo por parte de alguns profissionais em um hospital desse porte. 

Como eu estava enganada...

Muitas das coisas que aconteceram antes e depois do parto me incomodaram ou me enfureceram na hora. 

Outras eu vim a perceber apenas depois. Eu sabia que algo me incomodava, mas não sabia exatamente o quê. Na minha cabeça, inicialmente, não fazia sentido eu ter ficado irritada por ter sido chamada de "mãezinha". Afinal, isso não é uma coisa menor diante do fato de minha filha ter nascido linda e perfeita?

Não!  

"Detalhes" como esse tipo de tratamento prejudicam um dos momentos mais incríveis da vida de uma mãe - e de um pai também; todo homem que participou do parto do filho sabe disso.

Eu descobri depois que esse tipo de tratamento, entre dezenas de outros abusos, são, sim, considerados uma violência contra a mulher. E, pasmem, uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo mostrou que uma em cada quatro brasileiras dizem ter sofrido maus tratos, físicos ou psicológicos, durante o parto.

Por isso, vou aproveitar o blog para contar algumas das experiências ruins que tive no parto da minha filha. Será que você ou, no caso dos pais, sua mulher passou por algo parecido - ou pior?

Como muitos já devem ter percebido, eu sou do tipo que gosta de botar a boca no trombone. Então, acho que quem sofreu algo na maternidade não deve ser calar (abaixo, há dicas sobre o que fazer). 

E também queria indicar o incrível documentário "Violência Obstétrica - A Voz das Brasileiras", que está disponível online e mostra os absurdos aos quais muitas mulheres são submetidas na hora do parto. 

Ah, antes de falar dos pontos negativos do meu parto, vou falar de um mais que positivo, que considero minha maior "vitória". Minha filha mamou minutos após nascer. Além de ter sido uma cena incrivelmente emocionante, é algo que pode ser muito importante para os bebês, ajudando no reflexo de sucção e em outros aspectos.

Agora, sim, aos meus perrengues:


- Meu marido foi impedido de ficar comigo durante todo o parto

Além de ser uma violência, isso é ilegal. O marido ou outro acompanhante precisa se ausentar, no máximo, para se trocar e entrar no centro cirúrgico. Mas no meu caso não foi assim, embora eu tivesse essa informação. Meu marido teve de se ausentar logo após o parto, porque funcionários do hospital não conseguiam escrever meu sobrenome corretamente - o mesmo aconteceu com outros itens da minha ficha. E apesar dos protestos dos médicos, meu marido foi obrigado a ir pessoalmente à recepção arrumar meus dados para que as pulseirinhas de identificação fossem impressas corretamente. 

- Demoraram a me levar para o quarto após o parto

Novamente, me privaram da companhia do meu marido. Após o parto, fui levada para uma sala e depois de alguns minutos questionei as enfermeiras - que fofocavam sem parar na minha orelha - sobre por que eu não poderia ir para o quarto. Me informaram que apenas o sr. Fulano levava as macas. E o sr. Fulano estva tomando um café ou algo do tipo. Não que eu seja barraqueira, longe de mim. Mas pedi para localizarem meu marido. Ele estava no quarto, com instruções de que eu estava a caminho. Mas eu não estava... Então, ameacei a levantar e ir andando caso não fosse levada imediatamente. Me levaram.


- Ser chamada de "mãezinha" e de "mamãe"

Isso parece ser praxe em muitas maternidades país afora, sejam elas particulares o públicas. Me senti ofendida por não ter sido chamada por meu nome. Percebi que muitos dos funcionários nem se importavam em ler meu nome na ficha, mesmo durante exatmes. Mas, acima de tudo, o "mãezinha" era dito de um jeito como se quisesse me diminuir, com um misto de dó e desprezo. Pelo menos foi assim que me senti - e sei de muitas mães que sentiram o mesmo. 


Agora, na esperança de ajudar outras mães e de acabar com esse absurdo, compartilho aqui algumas das informações úteis e precisas que foram reunidas pela obstetriz e doula Ana Cristina Duarte.  


São atos de violência obstétrica:

- Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência 

- Tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, zombateira ou de qualquer forma que a faça se sentir mal, ou de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, tratando-a como incapaz.

- Submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas.

- Impedir a mulher de se comunicar com o "mundo exterior", tirando-lhe a liberdade de telefonar, por exemplo 

- Fazer graça ou recriminar por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter medo, vergonha etc.

- Fazer qualquer procedimento sem explicar antes o que é, por que está sendo oferecido e acima de tudo, sem pedir permissão.

- Submeter a mulher a mais de um exame de toque, especialmente por mais de um profissional

-  Submeter a mulher e/ou o bebê a procedimentos feitos exclusivamente para treinar estudantes  

- Fazer uma mulher acreditar que precisa de uma cesariana quando ela não precisa - utilzando de riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados, como o bebê é grande demais - e sem  a devida explicação dos riscos que ela e seu filho, como risco de prematuridade do bebê.

- Submeter bebês saudáveis a aspiração de rotina, injeções e procedimentos na primeira hora de vida, antes que tenham sido colocados em contato pele a pele e de terem tido a chance de mamar.


Para denunciar:

1) Exija seu prontuário no hospital (ele é um documento seu, que fica depositado no hospital, mas as cópias devem ser entregues sem questionamento e custos).

2) Escreva uma carta contando em detalhes que tipo de violência você sofreu e como se sentiu.

- Se o seu parto foi no SUS, envie a carta para a Ouvidoria do Hospital com cópia para a Diretoria Clínica, para a Secretaria Municipal de Saúde e para a Secretaria Estadual de Saúde.

- Se o seu parto foi em hospital da rede privada, envie sua carta para a Diretoria Clínica do Hospital, com cópia para a Diretoria do seu Plano de Saúde, para a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e para as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde. Existem outras instâncias de denúncia, dependendo da gravidade da violência recebida, mas um advogado deveria ser consultado.

LEIA TAMBÉM:

- O lado não tão lindo da maternidade

- Filho novo, vida nova

- Qual princesa a sua filha é?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Encontre-nos no Facebook