Fernanda Cruz - Agência Brasil25.03.2013 - 14h42 | Atualizado em 25.03.2013 - 15h04
São Paulo – Cerca de 100 especialistas, entre brasileiros e estrangeiros, estão reunidos de hoje (25) até sexta-feira (29) para debater pesquisas e programas sobre transtornos mentais. O encontro, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai resultar em um relatório sugerindo ao governo ações focadas na prevenção aos transtornos mentais, emocionais e de comportamento.
“Quando nós falávamos nisso 20 anos atrás, todos eram muito céticos sobre a possibilidade de se realmente atuar na prevenção. Mas, hoje, nós compreendemos que a frequência desse trauma é muito elevada”, disse Jair de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador do evento.
O encontro tem parceria com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, e o King's College, da Inglaterra. Nele, os pesquisadores vão discutir também a relação entre os transtornos e as consequências na sociedade, como o abuso físico infantil, a violência doméstica, os maus-tratos na gravidez, o aborto e outros tipos de violência.
Mari defendeu ações e políticas públicas que evitem a exposição, sobretudo dos adolescentes, aos transtornos mentais. “Nós negligenciamos muito essa parte, deixamos acontecer para depois atuar. Então, a ideia é que, do ponto de vista global, nós pudéssemos chamar a atenção para as ações que podemos implementar”, disse.
Stan Kutcher, psiquiatra canadense, falará sobre um projeto aplicado nas escolas de seu país. No Canadá, o sistema de ensino passou a adotar, na grade curricular, programas de prevenção na área de saúde mental. Segundo Mari, a ideia é discutir sobre a viabilidade da implementação de projeto semelhante no Brasil. “Seria interessante, para nós, adotarmos um currículo desse? Ensinar sobre anorexia, drogas, sexualidade, de uma forma mais aberta?”, questiona.
Na Austrália, o programa, chamado headspace, funciona de maneira semelhante, com a destinação de espaços que centralizam diversas ações de prevenção, como locais amigáveis. Esses espaços desenvolvem comportamentos saudáveis, como estímulo à leitura, à autoestima e à promoção da saúde. A ideia, segundo Mari, poderia ser aproveitada pelo Brasil.
“Nós também estamos pensando em um modelo de saúde mental que priorizasse mais a questão da adolescência. Testando lugares mais amigáveis de atração dos adolescentes, e que nesse lugar você pudesse fazer uma articulação com escola, médicos da família e lugares que vão oferecer empregos para jovens”, informou.
Outras experiências estrangeiras serão abordadas na exposição de Yanki Yazgan, psiquiatra de crianças e adolescentes, da Turquia, que vai tratar sobre um programa do país que ensina pais e mães a cuidarem adequadamente dos filhos. O objetivo é evitar o castigo físico cometido contras as crianças. “Queremos falar para as mães [brasileiras] que elas não devem punir desse jeito. Elas têm que usar de outros artifícios, por exemplo, não jogar bola no fim de semana, não assistir à televisão”, disse Mari.
O evento terá espaço, além disso, para projetos brasileiros, como o Cuca Legal, implementado nas escolas paulistanas. Rodrigo Bressan, responsável pela iniciativa, vai explicar como o programa ensina os professores a identificarem casos de transtorno mental entre os alunos, para que sejam encaminhados ao serviço médico. “Antes que a situação piore”, destaca Mari. Para ele, é preciso também combater estigmas na sociedade, como a negação do transtorno. “Tem que gente que acha que não existe esquizofrenia, por exemplo”, disse.
Outra palestra muito esperada pelos pesquisadores é a do psicólogo Bruce Cuthbert, do Instituto Nacional de Saúde Mental (Estados Unidos), sobre o diagnóstico desse tipo de doença. Cuthbert vai apresentar um novo sistema classificatório para esses transtornos, que vai auxiliar na identificação precoce. “Vai ajudar nos tipos de ações que poderiam prevenir a neuroprogressão, a saber identificar os sinais, comportamentos e sintomas”, explicou Mari.
Edição: Carolina Pimentel
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