quarta-feira, 27 de março de 2013

Baixa de testosterona prejudica vida sexual da mulher, aponta pesquisa

 

Fonte: http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2013/03/baixa-de-testosterona-prejudica-vida-sexual-da-mulher-aponta-pesquisa

Léo Rodrigues - Portal EBC27.03.2013 - 13h13 | Atualizado em 27.03.2013 - 13h27

Conhecido popularmente como "hormônio masculino", a testosterona é também fundamental para a saúde sexual da mulher. É o que aponta um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da UFMG no ano passado, cujos resultados foram agora divulgados para a imprensa. A pesquisa foi baseada em um levantamento com 60 mulheres com problemas sexuais em tratamento no Hospital das Clínicas da UFMG, das quais 75% apresentaram baixos níveis de testosterona.

Todas as participantes do estudo tinham idade entre 18 e 44 anos, período da vida adulta feminina mais favorável para a atividade hormonal e sexual. Uma preocupação dos pesquisadores foi incluir no levantamento apenas pacientes que não tinham problemas psicológicos, sociais ou no relacionamento, com o objetivo de permitir a observação isolada da influência das alterações hormonais.

A ginecologista e pós-graduanda Fabiene Bernardes Vale, autora da pesquisa, conta que a testosterona é encontrada nas mulheres em quantidades menores que no homens. A sua ação está relacionada ao prazer e à resposta sexual feminina. “São necessários níveis mínimos deste hormônio para que exista a ativação do centro cerebral do prazer. A queda desses níveis é causa da baixa de libido”, explica.

Segundo o professor Selmo Geber, orientador de Fabiene Bernardes, é normal a redução gradual dos níveis de testosterona ao longo da vida reprodutiva, mas uma queda mais acentuada pode prejudicar a saúde sexual. A testosterona começa a ser sintetizada nas mulheres durante a puberdade, atingindo um pico máximo aos 20 anos. Após essa idade, inicia-se uma redução lenta dos níveis do hormônio até a menopausa, quando há uma baixa mais drástica.

Fabiene Bernardes explica que ainda não se sabe completamente quais os motivos da queda dos níveis do hormônio durante a vida reprodutiva da mulher. O estudo que ela conduziu também não deixa claro se essa variação ocorre de forma definitiva. "Nós fizemos apenas a dosagem de uma amostra. Não é possível, até o momento, avaliar se esta queda é permanente ou transitória". Ela também esclarece que a pesquisa não calculou qual seria a prevalência desse problema na população em geral. Porém, é certo que seja alto o índice de mulheres que convivem com o problema.

Apesar dessas limitações da pesquisa, a ginecologista acredita que os resultados permitem repensar as estratégias de tratamento e abriu novas perspectivas para que se encontre um procedimento terapêutico com maior eficácia. Atualmente, no Brasil, existem medicações alternativas que podem ser usadas para reposição de testosterona, mas não são drogas elaboradas com a finalidade de tratar a disfunção sexual feminina. "Após a conclusão do nosso estudo, estamos começando a pesquisar um remédio novo no mercado que tenha este objetivo", anuncia Fabiene Bernardes.

Disfunção sexual

Segundo dados da Confederação Médica Brasileira, a disfunção sexual atinge mais de 40% das mulheres. O problema pode ser caracterizado pela falta de desejo ou excitação, ou ainda pela manifestação de dor, durante ou após o ato sexual. Fabiene Bernardes alerta que a disfunção sexual nem sempre é causada exclusivamente pela baixa do hormônio e que a paciente deve recorrer ao ginecologista para que se faça um diagnóstico de seu caso. "Os mecanismos responsáveis pela resposta sexual feminina são complexos e dinâmicos", afirma.

As causas da disfunção sexual ainda não são totalmente esclarecidas. Existe um conhecimento vasto sobre o assunto, mas a ciência precisa realizar mais estudos. "Atualmente, o modelo mais aceito para explicar a resposta sexual nas mulheres reforça a importância da intimidade emocional com o parceiro e a satisfação da própria percepção de desejo e necessidade sexual", explica Fabiene Bernardes. Ela ressalta que fatores biológicos, como as alterações hormonais, são apenas uma parte do problema, que envolve também fatores psicológicos e sociais.

Diversas autoridades médicas do mundo se reuniram em 2002, no Consenso de Paris, para debater questões ligadas à saúde sexual. Entre os resultados do encontro está a definição do que seria a disfunção sexual feminina, passo fundamental para enfrentar o preconceito em relação ao problema. Desde então, a disfunção sexual feminina foi definida como “desordem persistente e recorrente do desejo ou interesse sexual, da excitação subjetiva e genital, no orgasmo e dor ou dificuldade para permitir ou completar a relação sexual”, e foram dividas quatro subcategorias:

Disfunção
do desejo
Falta de interesse ou indiferença ao estímulo sexual, não justificada por outra condição médica, psicológica ou relacionada a uso de medicação. Pode ser também caracterizada pela persistente fobia ou repulsa de qualquer tentativa de contato sexual.

Disfunção
da excitação
Incapacidade de atingir ou manter excitação sexual adequada. É classificada em diferentes subtipos, que vão desde a ausência de lubrificação genital até a ocorrência espontânea e indesejável de excitação sexual.

Disfunção
do orgasmo
Dificuldade em atingir o orgasmo, seja por atraso ou ausência deste, após suficiente estimulação sexual e excitação. É o tipo de disfunção sexual que mais afeta as mulheres.

Disfunção da
dor sexual
Desconfortos que atrapalham ou impedem o ato sexual. Pode ser causada por vários motivos, como a presença de dor durante a penetração e o vaginismo, que ocorre quando há contração dolorosa e involuntária da parede muscular da vagina.

  • Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0

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