22/03/2013 - 03h13
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O centro de distribuição que a rede de farmácias e varejo Walgreens abriu na Carolina do Sul (EUA), em 2007 tem uma peculiaridade: produtividade 20% maior que a de seus pares.
O segredo do negócio, conta o então vice-presidente da rede, Randy Lewis, é o perfil dos funcionários. Criado em 2007, o centro foi o primeiro da empresa a empregar e treinar pessoas com deficiência intelectual.
"Sempre tivemos em mente que é um bom negócio, não caridade", afirmou ele em painel do Dia Mundial da Síndrome de Down promovido na sede da ONU, em Nova York. Neste segundo ano, o foco foi a inclusão no mercado de trabalho.
Aposentado após 16 anos pilotando a logística da rede, Lewis diz que os dois centros da Walgreens que empregam pessoas com deficiência são os mais produtivos dos 13 existentes. E são procurados por empresas interessadas em funcionários que, segundo pesquisas, faltam menos e tendem a trocar de emprego com frequência menor.
"Quando começamos, sabíamos que teríamos impacto entre pessoas com deficiência e suas famílias", diz Lewis, cujo filho é autista. "Descobrimos que tínhamos impacto maior ainda sobre as pessoas sem deficiência."
Glória Moreira Salles, que preside a ONG Carpe Diem para a inclusão de deficientes intelectuais no Brasil, acha que, no país, ainda há resistência a quebrar.
"[As empresas] ainda têm medo de não saber lidar com a pessoa [com deficiência]. Por isso é importante o acompanhamento de uma associação de apoio a qual se possa recorrer em caso de dúvida" diz a voluntária, que tem uma filha adulta com Down e foi a Nova York para o evento.
"Temos de mostrar que dá certo. E as famílias têm de fortalecer a pessoa com síndrome de Down para que sejam elas as protagonistas."
Fabio Braga/Folhapress
Marizete dos Santos Silva, 35, trabalha há um mês em uma rede de Fast Food e vê o emprego como sonho realizado
E dá mesmo. A baiana Marizete dos Santos Silva, 35, trabalha há quase um mês em um McDonald's em São Paulo e vê isso como um sonho realizado --seja quando precisa limpar o chão ou servir sorvete. "Estou gostando", diz ela, que escolheu a rede de fast food entre opções de farmácias e supermercados após dois anos na Oficina Abrigada de Trabalho, que promove a inclusão.
"Com meu salário, quero ajudar a minha irmã a pagar as contas e comprar as minhas coisas, crescer forte. Tenho que ter independência", resume, contando que vai e volta sozinha para o trabalho.
Não há estatística sobre pessoas com síndrome de Down no mercado. O Censo de 2010 aponta, genericamente, que, dos 2,6 milhões de deficientes intelectuais no país, 22% dos homens e 16% das mulheres trabalham. Já nos EUA, 18% dos deficientes físicos e intelectuais estavam no mercado em 2011, mas o desemprego entre eles chegava a 15% --o dobro da média.
O ator e judoca carioca Breno Viola, 32, quer melhorar esses números. Famoso pelo filme "Colegas", ele está fascinado pelo papel de autodefensor, ao dar voz a pessoas com a síndrome, como ele.
Breno também trabalha no Movimento Down, que dissemina informações e congrega esforços de inclusão. Sua função é ler textos extensos, extrair deles as informações principais e organizá-las, com a ajuda dos monitores, para que outras pessoas com a síndrome entendam.
É aí que se dá o acesso, explica."Para as pessoas com deficiência visual, é preciso cão-guia, bengala e [escrita] braile. Para as com deficiência auditiva, a linguagem de sinais. E para as pessoas com deficiência intelectual, como eu, é preciso ter textos simples, com imagens."
De olho na próxima geração, Breno quer ministrar cursos para que mais autodefensores possam mostrar como a inserção funciona.
"Ser valorizado é muito bom. Ter direito ao trabalho, e ter sua vida é muito bom."
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