Fonte: GAZETA ONLINE em
14/02/2013 - 18h20 - Atualizado em 14/02/2013 - 19h09
"As condições não estão adequadas. O bicho está pegando aqui", desabafa pai de bebê de um ano e sete meses que esperou mais de três horas para ser atendida
Se adultos já sofrem ao esperar por atendimento médico em postos de saúde, o sofrimento é ainda maior para bebês que agonizam de dor. Essa é a experiência relatada por um pai, que teve de esperar por mais de três horas para ver a filha, com suspeita de dengue, atendida no PA Infantil de Alto Lage, em Cariacica, nesta quinta-feira (14). Durante à tarde, cerca de 50 crianças ainda aguardavam atendimento na unidade, segundo ele.
O chef de cozinha Wellington Gomes, 26 anos, conta que o atendimento chegou a ser suspenso por volta do meio-dia porque os três médicos resolveram almoçar no mesmo horário. "Eu cheguei às 10h e minha filha foi atendida por volta de uma hora da tarde porque eu disse que iria ligar para a reportagem. Os três médicos que estavam atendendo pararam para almoçar às 12h30 e o atendimento foi suspenso. Tinha muita gente e eles não estavam atendendo mais".
Ele diz que durante a longa espera por atendimento à filha Eloá Aparecida, de um ano e sete meses, não foi feita nenhuma triagem para averiguar a gravidade da criança. "Aqui (no PA) não tem triagem para saber o risco da criança, e tem crianças que chegam aqui muito mal. Minha filha mesmo chegou aqui toda mole, passando muito mal porque está com suspeita de dengue desde domingo. Eles não fazem triagem. Eles 'fazem a ficha' e só atendem pela ordem de chegada. Eles não avaliam o risco da emergência da criança", critica.
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Apesar de ter trabalhado um médico a mais no período matutino, o chefe de cozinha diz ter notado mais agilidade no atendimento às crianças somente no início da tarde. "Só começaram a atender depois do almoço. E por volta das 16 horas ainda tinha 50 crianças aguardando atendimento. O pessoal da portaria disse que depois das 19h não tem médico para atender às crianças, por isso não estão mais 'fazendo ficha'. O pessoal está chegando e voltando para trás".
Más condições
Além disso, o pai denuncia más condições de atendimento ao público na unidade. Segundo Wellington, na enfermaria I onde a filha está internada os ventiladores não funcionam, as lâmpadas estão tomadas por teias de aranha e os berços, que deviam garantir a segurança dos bebês que ficam internados, não têm proteção dos dois lados. "A criança pode virar e, num momento de descuido, cair do berço", alerta.
O chef de cozinha diz ainda que há lixo hospitalar espalhado próximo aos banheiros do PA, tais como luvas e algodões sujos de sangue, o que reforça a preocupação com a saúde. "As condições não estão adequadas. O bicho está pegando aqui", desabafa.
Secretaria de Saúde reconhece problemas
Em nota, a Secretaria de Saúde de Cariacica reconheceu os problemas no PA de Alto Lage. Segundo a pasta, faltam médicos para que a unidade funcione na noite desta quinta. Além disso, os enfermeiros que faziam a triagem dos pacientes tiveram os contratos encerrados.
Confira o comunicado na íntegra
"A Prefeitura de Cariacica informa, por meio da Secretaria de Saúde, que no PA de Alto Lage, nesta quinta-feira (14), o atendimento será suspenso às 19h, por falta de médico. São três plantonistas no PA, mas essa semana dois pediram demissão, e de acordo com o Conselho Regional de Medicina, não pode haver apenas um médico no plantão de pronto atendimento.
Em relação ao lixo, o que acontece é que os próprios pacientes jogam algodões sujos de sangue próximo aos banheiros que ficam na parte externa do PA, contudo, há duas pessoas que fazem limpeza do espaço constantemente.
Na enfermaria I, há ventilador quebrado porque o contrato de manutenção que foi rompido, durante a troca de gestão, ainda não está em pleno vigor. No que se refere as camas da enfermaria, a prefeitura informa que, quando não é internação, não precisa de ter essa grade de proteção, pois a mãe fica o tempo todo ao lado da criança.
Sobre a classificação de risco, ela não está sendo realizada porque os enfermeiros responsáveis por ela trabalhavam por meio de contratos que chegaram ao fim. Os enfermeiros efetivos não estão capacitados para realizar essa função. Há, portanto, a necessidade de uma nova capacitação para os profissionais da enfermagem estarem aptos para fazer a classificação de risco".
Sobre as teias de aranha e as luvas que estariam descartadas de forma irregular, a Secretaria de Saúde nega. "Só se for as luvas que as enfermeiras deixam com as crianças para entretê-las", diz a nota assinada pela Prefeitura de Cariacica.
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